Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sol se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri.
Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser.
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter.
Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.
Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar,
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nessa terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.
Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.
Pessoa Ortónimo
Não consigo explicar muito bem porquê, mas adorei este poema de Fernando Pessoa. Este poema provocou sensações em mim que me provocaram um arrepio na espinha e me fizeram sorrir, vá se lá saber porquê.
Inspirou-me esta dúvida da existência de um lugar paradisíaco, uma ilha de sonhos, um paraíso terrestre onde a felicidade existe (e não, não é o mundo encantado dos brinquedos). Mas gostei ainda mais, da maneira abrupta como o poeta destrói o sonho que ele próprio construiu e nos informa que não é o sonho que cura a alma (já que não existe), mas é na nossa vida, na nossa realidade, hoje e agora que temos que ser felizes. Somos nós que traçamos o nosso caminho e que incluimos, ou não, na nossa rota a felicidade.
Esta foi a interpretação que eu fiz, sem ninguém me explicar, por isso é provável que esteja pouco correcta, que contenha erros, embora entretanto tenha corrigido na aula e a stora até tenha gostado. Mas acho que a pesia, e a literatura em geral, provoca certos sentimentos em cada um que não têm um certo ou um errado, por isso ousei dizer o que pensava, mesmo correndo o risco de dizer um grande disparate.
Todos nós sonhamos, todos nós idealizamos, Pessoa diz para continuarmos a fazê-lo, mas nunca no esquecendo que somo nós que somos responsáveis por encontrar dentro de nós a felicidade, se não o fizermos o sonho nunca será possível. Uma maneira poética de dizer fia-te na Virgem e não corras, coisa que Pessoa nunca diria suponho. Não é suposto deixarmos de acreditar na Virgem Maria, apenas devemos é fazer alguma coisa e não, esperar que ela resolva os nossos problemas por nós e nos torne felizes por obra e graça do espírito santo.
Sonhem. Realizam. Vivam. Acima de tudo, sejam felizes!