Ola! Eu sou a monica! Escrevo porque quero falar, aliás adoro falar! Escrevo porque quero que me ouçam. Talvez as minhas historias nao sejam muito interessantes, talvez só esteja a ocupar espaço, mas conto na mesma porque gosto de o fazer

11
Dez 09

Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sol se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri.

 

Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser.
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter.
Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.

 

Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar,
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nessa terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.

 

Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.

 

Pessoa Ortónimo 

 

Não consigo explicar muito bem porquê, mas adorei este poema de Fernando Pessoa. Este poema provocou sensações em mim que me provocaram um arrepio na espinha e me fizeram sorrir, vá se lá saber porquê.

Inspirou-me esta dúvida da existência de um lugar paradisíaco, uma ilha de sonhos, um paraíso terrestre onde a felicidade existe (e não, não é o mundo encantado dos brinquedos). Mas gostei ainda mais, da maneira abrupta como o poeta destrói o sonho que ele próprio construiu e nos informa que não é o sonho que cura a alma (já que não existe), mas é na nossa vida, na nossa realidade, hoje e agora que temos que ser felizes. Somos nós que traçamos o nosso caminho e que incluimos, ou não, na nossa rota a felicidade.

Esta foi a interpretação que eu fiz, sem ninguém me explicar, por isso é provável que esteja pouco correcta, que contenha erros, embora entretanto tenha corrigido na aula e a stora até tenha gostado. Mas acho que a pesia, e a literatura em geral, provoca certos sentimentos em cada um que não têm um certo ou um errado, por isso ousei dizer o que pensava, mesmo correndo o risco de dizer um grande disparate.

 Todos nós sonhamos, todos nós idealizamos, Pessoa diz para continuarmos a fazê-lo, mas nunca no esquecendo que somo nós que somos responsáveis por encontrar dentro de nós a felicidade, se não o fizermos o sonho nunca será possível. Uma maneira poética de dizer fia-te na Virgem e não corras, coisa que Pessoa nunca diria suponho. Não é suposto deixarmos de acreditar na Virgem Maria, apenas devemos é fazer alguma coisa e não, esperar que ela resolva os nossos problemas por nós e nos torne felizes por obra e graça do espírito santo.

Sonhem. Realizam. Vivam. Acima de tudo, sejam felizes!

Mónica vidademonica às 17:00

09
Dez 09

Senhor António:

O senhor nunca há de ver esta carta, nem eu a hei de ver segunda vez porque estou tuberculosa, mas eu quero escrever-lhe ainda que o senhor o não saiba, porque se não escrevo abafo.
O senhor não sabe quem eu sou, isto é, sabe mas não sabe a valer. Tem-me visto à janela quando o senhor passa para a oficina e eu olho para si, porque o espero a chegar, e sei a hora que o senhor chega. Deve sempre ter pensado sem importância na corcunda do primeiro andar da casa amarela, mas eu não penso senão em si. Sei que o senhor tem uma amante, que é aquela rapariga loura alta e bonita; eu tenho inveja dela mas não tenho ciúmes de si porque não tenho direito a ter nada, nem mesmo ciúmes. Eu gosto de si porque gosto de si, e tenho pena de não ser outra mulher, com outro corpo e outro feitio, e poder ir à rua e falar consigo ainda que o senhor me não desse razão de nada, mas eu estimava conhecê-lo de falar.
O senhor é tudo quanto me tem valido na minha doença e eu estou-lhe agradecida sem que o senhor o saiba. Eu nunca poderia ter ninguém que gostasse de mim como se gostasse das pessoas que têm o corpo de que se pode gostar, mas eu tenho o direito de gostar sem que gostem de mim, e também tenho o direito de chorar, que não se negue a ninguém.
Eu gostava de morrer depois de lhe falar a primeira vez mas nunca terei coragem nem maneiras de lhe falar. Gostava que o senhor soubesse que eu gostava muito de si, mas tenho medo que se o senhor soubesse não se importasse nada, e eu tenho pena já de saber que isso é absolutamente certo antes de saber qualquer coisa, que eu mesmo não vou procurar saber.
Eu sou corcunda desde a nascença e sempre riram de mim. Dizem que todas as corcundas são más, mas eu nunca quis mal a ninguém. Além disso sou doente, e nunca tive alma, por causa da doença, para ter grandes raivas. Tenho dezanove anos e nunca sei para que é que cheguei a ter tanta idade, e doente, e sem ninguém que tivesse pena de mim a não ser por eu ser corcunda, que é o menos, porque é a alma que me dói, e não o corpo, pois a corcunda não faz dor.
Eu até gostava de saber como é a sua vida com a sua amiga, porque como é uma vida que eu nunca posso ter — e agora menos que nem vida tenho — gostava de saber tudo.
Desculpe escrever-lhe tanto sem o conhecer, mas o senhor não vai ler isso, e mesmo que lesse nem sabia que era consigo e não ligava importância em qualquer caso, mas gostaria que pensasse que é triste ser marreca e viver sempre só à janela, e ter mãe e irmãs que gostam da gente mas sem ninguém que goste de nós, porque tudo isso é natural e é a família, e o que faltava é que nem isso houvesse para uma boneca com os ossos às avessas como eu sou, como eu já ouvi dizer.
Maria José (um dos heterónimos femininos de Fernando Pessoa)
 
 
Por ser muito extensa decidi colocar apenas um excerto da carta, até porque mais para a frente a carta continua apenas com as lamúrias de uma corcunda que se sente só, descriminada e exclúída, um peso na vida de todos.
Adorei este texto que lemos na aula, a propósito da apresentação de um colega e que vá se lá saber porquê, fui eu a ler, ironias da vida.
Tirando a parte de ser corcunda, identifiquei-me com os sentimentos desta mulher, que ama um rapaz, mas tem vergonha, tem medo de lho contar.
E a outra é loura, mas não é loira, nem bonita; e abestenho-me de mais comentários em relação à outra, pois seriam certamente cruéis, motivados por um ciúme, que tal como a corcunda, não tenho o direito de sentir.
Um rapaz que me conhece, que sabe quem eu sou, mas não sabe a valer, pois vê-me como uma irmã: se por um lado isso seria óptimo, ele disse-me que isso significava que eu era muito especial e que queria que estivessemos juntos para sempre, por outro significa que não me vê como rapariga, que não me vê como mulher. E isso assusta-me e magoa-me e preocupa-me. O que é que eu sou? um ser assexuado? Isto tira-me a esperança de qualquer hipótese, torna-se difícil de dizer que gosto dele, se para ele é como se não fosse rapariga ...

08
Dez 09

Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos. Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Até que os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo.... Um dia os nossos filhos vão ver as nossas fotografias e perguntarão: "Quem são aquelas pessoas?" Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto! "
Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!" A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...... Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.
E, entre lágrimas abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes desde aquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo..... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida te passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades.... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

Fernando Pessoa

 

 

Este foi um dos meus primeiros contactos com Pessoa, lembro-me perfeitamente.

A primeira vez que li esta poema foi há três anos, estava eu no nono ano, em casa de uma amiga a fazer um trabalho de grupo sobre distúrbios alimentares. Decidimos fazer uma pausa e essa minha amiga deciciu mostrar-nos este poema. Lembro-me que na altura, uma outra amiga nossa que também estava lá começou a chorar, antecipando a saudade que iria sentir da nossa turma, que passando uns dois ou três meses se iria separar para sempre. Embora não fossemos os melhores amigos do mundo, foram cinco anos, se não houvessem amizades, existiam pelo menos empatias e era certo que, no mínimo, iriamos sentir a falta daquelas pessoas.

 Mas não é desses que me lembro quando leio isto, quando leio isto lembro-me dos meus verdadeiros amigos aqueles que são estrelas e não cometas (explico isso noutro post, noutro dia), aqueles que tornam a nossa vida mais fácil, , aqueles que vão lanchar connosco mesmo quando estamos de mau humor, aqueles que nos aturam as birras, nos amparam os golpes, nos estendem a mão quando caimos, aqueles que nos avisam que não deviamos fazer alguma coisa (mesmo sabendo que vamos, inevitavelmente, fazê.la) e que a seguir estão lá para reparar os estragos.

Aqueles por quem eu sofrereria, para não ter que aguentar a dor de os ver sofrer. Aqueles por quem passaria noites a fio acordada para ouvir. Aqueles a que aturo as neuras, aqueles que compreendo que não estejam bem e para os quais tento ter a maior paciência quando estão irritantemente apáticos, aqueles que me dizem que eu sou como uma irmã ...
 

 


07
Dez 09

Estou no 12º ano, como muitos devem saber esse é o "terrível ano" em que um poeta louco e alcoólico entra de rompante nas nossas vidas. Para uns é uma "seca", para outros é "chinês". As opiniões divergem quando estamos perante alguém assim.

Nunca achei seca, mas no início fiz parte do grupo para o qual o mesmo poema em chinês faria tanto sentido, como o apresentado em português no nosso manual (e não, eu não sei falar mandarim). Mas este homem, um louco, alcoólico, e mais alguns nomes de que me consiga lembrar (essencialmente por me ter roubado umas boas horas de estudo para tentar perceber minimamente aquilo que tentava passar para o papel), despertou a minha curiosidade, fazendo com que não desistisse de perceber a sua loucura, só por não ser psiquiatra.

Comecei por bombardear a minha professora de português com perguntas, quando tenho dúvidas tenho que esclarecê-las, embora alguns professores não gostem muito de perguntas, eu também sou exigente, não aceito uma resposta qualquer, gosto que me respondam áquilo que pergunta, e não que me digam uma coisa qualquer só para em me calar.

No princípio, eu acho que a senhora achou que eu era um caso perdido, que era demasiado superficial para entender a profundidade pessoana, que tinha dificuldade em ver para além do óbvio. Eu sei que não aceito logo as coisas, que resisto a interiorizar as coisas, mas quando finalmente percebo, percebo mesmo; há muitas coisas de que não gosto, nem ligo; mas quando gosto, gosto mesmo, adoro, respiro aquilo.

E é assim com Pessoa, a sua pessoa impressiona-me. O seu modo de escrever espanta-me. A sua dor magoa-me, mas cada pequena réstea de felicidade que encontro escondida entre dois versos, a felicidade que encontro escondida numa dúvida, faz-me sorrir, faz-me sonhar.

As mil pessoas em que se divide, fazem agora sentido. Cada ser humano é tão complexo que é normal que se divida; de um modo mais superficial, isso passa-se em cada um de nós, todos temos um lado mais divertido, um lado mais "certinho", um lado mais infatil e Pesoa pega em cada uma dessas partes e cria uma nova pessoa, acho isso verdadeiramente fantástico. Pessoa, sabendo que viver uma só vida é árduo, escolher viver várias com o sofrimento e a dor trazidos por cada uma delas.

E quanto mais leio Pessoa, mais belo acho aquele sofrimento e aquela dor e aquela racionalização do sentir. Quanto mais leio Pessoa, mais encontro versos que combinam comigo, palavras que casam com a minha vida, estrofes que expressam a minha dor. Mas encontro também uma beleza de alguém que por vezes sugere a felicidade como hipótese, embora conclua que nunca vai encontrar: e se admiro a dúvida, não concordo com a conclusão.

Estou a adorar esta Pessoa que todos os dias me surpreende, que me faz querer sonhar mais alto, que torna o dia mais belo.

Não tenho medo de ler Pessoa, não tenham medo de o compreender, porque o tesouro que vão descobrir merece o esforço dispendido.

Ao longo desta semana, vou por um texto de Pessoa todos os dias, é uma boa maneira de mostrar o que gosto e promover um poeta que estimo.

 

 

Mónica vidademonica às 22:13

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